domingo, 20 de março de 2011

A Cidade Branca

Pedras brancas macias, polidas pelos ventos, vastas colunas gregas ornam a cidade branca. Mármores e camafeus. Uma flor de lótus representa um deus no centro das suas praças circulares. Outro ser galopa, um unicórnio corta a brancura do ar, avança sobre fontes donde jorram leites, sobre templos. Jonathan é o único homem da cidade branca e se veste com uma máscara de Zeus. Ele talha esculturas brancas sobre sua cidade, perfaz estátuas de homens e animais que se espalham pelos quatro cantos do reinado. Inscreveu sobre uma pedra o formato da raia e sua longa cauda. Agora esculpe o quadrado e a estrela de oito pontas.
Circunda os limites da cidade, ondula, o mar cujas espumas claras trazem pequeninos cristais ovais para o baixio. Ali, aves pernaltas, de oito palmos redondos, dançam elegantes o canto sagrado do mar. Em tanto de seis movem-se harmônicas e circulares sobre a areia deixando nela a marca compassada das suas passadas. No segundo seguinte neva. Transpassa os corpos das pedras o som da harpa e por todo tempo, no horizonte, a luz se renova e atinge, com a união das suas cores, a alma de todas as coisas. Uma luz branca, sem sol, enorme por sua constância e intensidade.

sábado, 19 de março de 2011


De repente, a conclusão de uma angústia é a descoberta do nada. Da sua não-solução. Com que armas se avança no objeto ausente?  De repente, a imagem da angústia é o infinito do branco (onde nosso ser não se abriga). De repente, angustia o homem como sucede ao dia escuridão. Como pressuposto – ou condição.



 
Circles in a Circle - 1923

“Tudo que está morto palpita. Não apenas o que pertence à poesia, às estrelas, à lua , aos bosques e às flores, mas também um simples botão branco de calça a cintilar na lama da rua... Tudo possui uma alma secreta, que se cala mais do que fala.”

Wassily Kandinsky

sexta-feira, 18 de março de 2011

quarta-feira, 9 de março de 2011

Soul Retrô


Eles são contemporâneos, mas seu som retoma o soul dos anos sessenta e setenta. Sharon Jones apareceu tardiamente, talvez por não fazer o tipo moça bonitinha ou maluquinha como Joss Stone e Amy Winehouse. Seu vozeirão não deixa nada a desejar  para as duas, aliás dá até um passo além. Mas sempre com uma forte inspiração no passado. Quem quiser uma "palhinha" este é o site oficial do seu álbum mais recente (que por sinal é ótimo) :  www.sharonjonesandthedapkings.com

segunda-feira, 7 de março de 2011

Café com Leite


 Quem não gosta de tomar leite com chocolate (ou café) no meio da tarde?  Lá pelas quatro horas dar uma parada no trabalho para se deliciar com essa combinação saborosa, que podendo ser quente ou gelada, se adapta a qualquer clima da Terra. Além de gostoso é uma boa desculpa para relaxar e bater papo com aquela pessoa que você adora (ou fugir de uma alma sebosa que assombra seu departamento – sempre existe uma). Vou arriscar dizendo que esse tipo de hábito até melhora a qualidade de vida, coisa de gente legal, que sabe relaxar. Mas outro dia um amigo, bem aquele do tipo desencanado, veio com uma assim: não vou mais tomar porque escurece os dentes. Na hora só pude pensar, até tu Brutus! Ah não! E tentei convencê-lo de que isso era besteira porque como me disse certa vez outra pessoa querida: “viver escurece os dentes”. Pois é, eu também quase caí nessa, mas felizmente um iluminado me fez enxergar o quanto é absurdo esse tipo de comportamento. E a maluquice não pára por aí. A paranóia da pigmentação dentária é só uma dentre as inúmeras instruções do manual da estética perfeita (e diga-se de passagem artificial, despersonalizada, sem graça mesmo). Outro caso foi de uma mulher que, embora não tivesse nenhum problema para atrair os olhares dos rapazes, quis ainda assim se submeter a uma operação agressiva para ficar com  o corpo mais enxuto (posso garantir, ela não era gorda, seu único “defeito” era não ser a Audrey Hepburn). E o pior: usou seu tempo de férias para isso. Tentei lhe dizer que era bonita daquele jeito, para pegar o dinheiro da operação e ir ver as águas claras do mar caribenho ao invés das paredes brancas de um hospital deprimente. É claro que ela não me ouviu, no mínimo deve ter pensado que eu era uma competidora e a queria ver “feia”. Além do mais, um argumento de segundos nunca seria suficiente para superar anos e anos de doutrinação da revista Vogue (e afins). Como esse, quantos casos já ouvi por aí, de pessoas que se submetem a operações cirúrgicas arriscadas, doloridas e caras a fim de não necessariamente ficarem mais bonitas, mas sim ficarem mais parecidas umas com as outras. Não sou contra as pessoas se cuidarem. Acho isso ótimo, desejável, saudável, é um sinal de amor-próprio, auto-estima. Quem não gosta de gente que se gosta? Agora, há uma diferença bem clara entre o cuidado e a paranóia. Não é difícil distinguir. Passar fio dental e escovar os dentes é se cuidar, deixar de comer e beber um monte de coisa que você adora só para que eles fiquem mais brancos é paranóia. Realizar uma atividade física que você gosta é se cuidar, passar todo o seu tempo livre numa academia (que você não suporta) e deixar de ler, estudar, namorar, ouvir música (e de se tornar alguém mais interessante) é paranóia. Resumindo, quando alguém deixa de lado diversos elementos da sua individualidade, os quais são imprescindíveis para sua formação como ser único, especial que é, em prol de um conceito genérico de beleza, cai na terrível armadilha de se tornar uma pessoa chata (porque afinal deixou de fazer um monte de coisa que tinha vontade), sem graça, sem sal, açúcar, pimenta, um ser hipossódico enfim. E se esse argumento ainda não for suficiente, uma coisa é certa: você não será mais amado(a) por possuir um silicone no peito ou um dente mais alvo, acredite em mim. Se essas fossem questões tão essenciais Shakespeare não teria escrito Romeu e Julieta (afinal naquele tempo nem pasta de dente devia ter) . O amor é um pouquinho mais complexo que isso. Ufa! ainda bem! :-)

domingo, 6 de março de 2011

A Chuva do Norte

Soa o trovão estrondoso - escurece - nuvens negras cobrem o céu azul. Um sopro fresco alivia rostos morenos do calor e um vento forte desafia a rigidez das plantas; as estruturas frágeis das casas simples. São prenúncios de chuva na região norte. Ela cai sobre a mata e calçadas, homens e bichos se escondem. A chuva é dadivosa no norte. Seu estribilho acalenta os corações apertados que ali vivem porque sobe da terra um cheiro de terra prazeroso, as ruas esvaziam, silenciam e o ar refresca. A chuva do norte é branca e pacifica - chuva água que intensifica o que é bom e esconde o ruim. Que vontade de ouvir seu burburinho de gota batendo na folha, no galho e no telhado por muito e muito tempo, música boa de se ouvir. A chuva balança o rio e faz com que ele cresça ameaçador sob a ponte, com que avance centímetros assustadores. A criança na janela da casa de madeira olha a chuva desconfiada, os adultos se escondem e vão ver televisão; os adultos se esqueceram de quão impressionante a chuva é. Basta mira-la por alguns  segundos para então perceber toda sua beleza.
Não pare chuva de chover, chova mais e conte ao homem a história de sua eterna pequenez; do seu controle ilusório da natureza. A chuva do norte não tem igual, é como um deus poderoso que desce dos céus para se exibir aos homens e lembrá-los de que há algo grandioso no entorno de si.


sexta-feira, 4 de março de 2011