domingo, 19 de junho de 2011

“Algumas coisas estão ficando muito claras. A construção da frase, tão literária, a construção da frase longa; o Facebook e o Twitter estão trabalhando enormemente para a frase curta. As pessoas estão começando a falar com frases curtas. Neste sentido, estão se afastando da literatura. Isto é absolutamente alarmante. Não gosto deste tipo de denúncia porque sempre prefiro incorporar elementos menos dramáticos. Mas é certo que está se falando pior, pois perde-se a complexidade da construção das frases. Há muito mais gente que escreve agora, mas só no Facebook e Twitter. Eu sou um entusiasta da internet, estou na internet todos os dias mas está se perdendo a construção complexa da realidade. Se há frases muito curtas, se fala com este tipo de frases. Há uma perda dramática da única coisa que nós, humanos, temos:  a linguagem. Não se trata da linguagem visual como muitos acreditam, mas da linguagem falada que se usa para comunicar emoções, esta coisa primordial que está se perdendo."

Enrique Vila-Matas - em entrevista para o Entrelinhas 

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A Celebração dos Pequenos

Fui convidada, com tudo pago, para a celebração da ausência de um outro. Celebra-se a falta? Não celebra-se sem que seja de puro mau gosto. Sem que seja porca por fora, oca por dentro. Pouco importa o caráter ou natureza do inimigo. No jantar da mesquinharia, da alegria pequena, prevalece a corja e os glutões. Prevalece o cenário medieval grotesco, da multidão em regozijo frente à guilhotina. Claro, odeia-se. Mas intimamente, solitário e firme. À noite, antes de dormir, numa reflexão, num sorriso oculto. Como um herói que derrota seu inimigo respeitando-o silenciosamente.  Do folguedo para o sofrimento, da zombaria da dor, ninguém se salva.

Renaud Garcia Fons - Aqa jan



"I had a dream about a bass—half Gypsy, half Mediterranean—that traveled from India to Andalusia, passing by the Mediterranean, north or south. Yet the bass is neither a traditional nor an oriental instrument. But its range of sonorities and the way it is played upon—both pizzicato and con arco—seem to make it feel comfortable in the neighborhood of certain instruments at home in the oriental world..."  Renaud Garcia Fons 

De: www.allaboutjazz.com

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A Vaidade é Brega

Certa feita, o filósofo Luis Felipe Pondé finalizou uma das suas colunas – no jornal "A Folha de São Paulo"- dizendo que a vaidade era brega.  Gostei tanto da qualificação, embora tenha soado um pouco estranha de início, que desde então, quando vejo alguém pavoneando por ai me lembro dela. E a breguice cabe tão bem à vaidade por ambas serem dignas de chacota. Quando a vestimos nos tornamos seres risíveis, patéticos, colocamos a máscara tola de um bobo da corte e saímos à rua. Cabe esclarecer, porém, que não me refiro precisamente àquela vaidade dos atributos físicos, dos perfumes e das maquiagens. Nada a ver com o jogo sexual de corpos desejosos e desejados. Tampouco se relaciona a uma  auto – estima favorável  já que esta vaidade não passa de umas das muitas medidas desesperadas que um ego suplicante toma para sustentar-se.  Explico-me, portanto.
Vaidade aqui é o valor extremado – desproporcional- que um ser faz de si e de tudo o que lhe diz respeito: do que fala, veste, come, vê; é a certeza de que ele está sendo atentamente observado, de que sua opinião importa muito a muita gente e de que mobilizações advirão a cada ação ou omissão proporcionada. Sua condição patética se dá por desconhecer sua própria pequenez, pela falta de humildade que é resultado senão de uma ignorância profunda do tempo e espaço em que vive. É exatamente aquele tipo que todo mundo já deve ter enfrentado no trabalho ou em uma mesa de bar falando histericamente de si, condicionando seu próprio valor ao status que seu trabalho, mulher, marido, carro, casa ou viagem de férias possui no mercado social.  É o vaidoso que gasta tempo e energia preciosos para que seja visto pela massa disforme (a qual ele mal vê e pela qual nada sente). Não é difícil perceber que tudo isso leva a uma terrível frustração na medida em que  a postura do vaidoso, embora ativa, não garante, ou pior, atrapalha relações afetivas profundas.  
Vale ainda observar que a direção dos nossos esforços vaidosos pode nos sinalizar o quão importante eles são: se a um individuo específico; há de serem valiosos pois uma pessoa é capaz de amar e ser amada nos trazendo imensuráveis recompensas emocionais.  Se a um grupo social; não. Neste caso a vaidade poderá ser um verdadeiro pecado capital.

domingo, 12 de junho de 2011