Muita chuva. Um acidente de carro no interior do estado do Acre. Na curva o carro derrapa, um homem ao volante perde o controle. O veículo cai ribanceira abaixo, capota e vai parar em um pequeno riacho enlameado, repleto de formigas. O motorista se afoga com a cabeça na água, impedido de se movimentar pelo cinto de segurança. Um rapaz que viajava ao seu lado , livre do próprio cinto, consegue socorrê-lo. No banco de trás , uma mulher também fica presa, dessa vez o que a imobiliza é uma dor insuportável no pé . Enfim livres, os homens correm para ajudá-la. Caminham os três pela mata úmida, ela apoiando-se neles ,até alcançarem a beira da estrada. A chuva ainda cai. Alguém chama uma ambulância. Nela os três viajam molhados e arrasados até a cidade mais próxima e são levados para um hospital precário. Uma vacina para tirar a dor que queima o ombro do rapaz. Uma faixa é enrolada no pé dolorido da moça. Ela pega o telefone para ligar para sua família no Rio de Janeiro. Titubeia com o celular na mão. A emoção enfim chega. Escorrem lágrimas. Também o rapaz se emociona e a consola com um beijo na testa. Silenciosos e ternos. Perguntamos o que eles querem. Dizem apenas, queremos chegar logo em casa. Referem-se não a suas verdadeiras casas, a milhares de quilômetros dali, mas à capital, Rio Branco. Teriam ainda que encarar mais estrada debaixo de chuva para chegar até um hospital que tivesse pelo menos um raio x. Pois a moça queria saber mais do seu pé e o rapaz mais do seu ombro. Solicitamos então o serviço de dois motoristas contratados pela instituição que os jovens trabalham para levá-los. Ambos estavam ali próximos e disponíveis. Ambos recusam. Os motivos: um deles estava de férias e tinha medo de descumprir esse pequeno entrave burocrático. Por moleza, frieza e passividade. O outro simplesmente não dá explicação satisfatória;diz que não se sente bem. Mentira. Estivera bem por toda manhã, estivemos com ele. Rumores de que o intuito das recusas foi forçar a vinda de um terceiro motorista de Rio Branco, para que o mesmo ganhasse um adicional no seu salário no final do mês. Por conta disso, os acidentados tiveram de aguardar oito horas ao invés de três para serem atendidos em um hospital minimamente equipado. Nesse meio tempo, alguns homens passam pelo local do acidente e vêem o veículo ali de rodas para o ar, quase todo destruído mas com os pneus ainda aproveitáveis. Verificam que a bateria ainda esta boa também. Retiram as partes do automóvel imaginando o bom negócio que poderiam fazer com elas. Quem sabe não conseguiriam quinhentos reais? E seguem felizes, contentes com a grande sorte do seu dia.
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
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