terça-feira, 24 de abril de 2012



Ontem estive na livraria e deparei-me com um livro de Freud, Luto e Melancolia, uma edição (como sempre) bela da Cosac Naif, traduzida diretamente do alemão para o português. Como é pequeno pude lê-lo quase todo ali mesmo, mais a introdução da Maria Rita Kehl. Ainda que o livro seja considerado fácil por especialistas, os leigos que não se iludam, ele é abundante em expressões e conceitos psicanalíticos que nos farão boiar vez ou outra. Isso não impede a validade da leitura que poderá trazer-nos um lume acerca desses sentimentos tristes tão difíceis de serem descritos, nomeados, classificados e compreendidos. Quantas vezes sentimos uma tristeza inominável, sem um porquê, sem um objeto?
De mais divertida e fácil apreensão, no entanto, é a explicação que os homens do período clássico davam ao melancólico, e que Maria Rita Kehl nos conta em sua nota introdutória. Para eles, o melancólico (que por vezes se torna maníaco) não carregava um sintoma mas um traço de personalidade caracterizado por picos alternantes de tristezas e alegrias.  Ele também era considerado um homem de gênio, mais propenso à arte criadora, à imaginação.
A explicação para os diferentes humores era dada pela coexistência de quatro substâncias no corpo humano: sangue (quente e úmido), fleugma (frio e úmido), bile amarela (quente e seca) e bile negra (fria e seca). A prevalência de uma delas sobre as outras marcava a personalidade: sanguínea, fleumática, colérica ou melancólica. Também os planetas interferiam nessa caracterização. No caso do melancólico, saturno.



sábado, 14 de abril de 2012

Jorge de Burgos e Jorge Luis Borges

Que coisa. Há poucos meses li “O Nome da Rosa” de Umberto Eco. Agora (tentando) ler alguns contos de Jorge Luis Borges: O ALEPH – contos estranhos, eruditos. O grande autor quis escrever para poucos é certo. Quem afinal já encarou Homero e Virgílio? Não muitos ( nem eu!). De todo modo tentamos, com boa vontade, descobrir o mais consagrado dos escritores portenhos e sua afamada literatura fantástica.
Mas não era exatamente desses percalços que gostaria de mencionar, mas apenas uma curiosidade saborosa: a de que o personagem “Jorge de Burgos”,uma das figuras mais marcantes – e sinistras- de “O Nome da Rosa” seria uma homenagem de Umberto Eco a Jorge Luis Borges. Será? Homenagea-lo através da figura de um vilão?
De todo modo, as coincidências são muitas e vão além do prenome: ambos apresentam uma erudição espantosa, foram responsáveis por cuidarem de bibliotecas e perderam gradualmente a visão na velhice. E até a descrição física do personagem assemelha-se à figura real do escritor argentino. Com tantas semelhanças é tentador imaginar que sim, que Umberto Eco inspirou-se em Borges na criação de um dos seus personagens mais famosos. Quem poderia imaginar, ao ler “O Nome da Rosa”, que o escritor argentino estivesse ali?