Ontem estive na livraria e deparei-me com um livro de
Freud, Luto e Melancolia, uma edição (como sempre) bela da Cosac Naif,
traduzida diretamente do alemão para o português. Como é pequeno pude lê-lo
quase todo ali mesmo, mais a introdução da Maria Rita Kehl. Ainda que o livro
seja considerado fácil por especialistas, os leigos que não se iludam, ele é
abundante em expressões e conceitos psicanalíticos que nos farão boiar vez ou
outra. Isso não impede a validade da leitura que poderá trazer-nos um lume
acerca desses sentimentos tristes tão difíceis de serem descritos, nomeados,
classificados e compreendidos. Quantas vezes sentimos uma tristeza inominável,
sem um porquê, sem um objeto?
De mais divertida e fácil apreensão, no entanto, é a
explicação que os homens do período clássico davam ao melancólico, e que Maria
Rita Kehl nos conta em sua nota introdutória. Para eles, o melancólico (que por
vezes se torna maníaco) não carregava um sintoma mas um traço de personalidade
caracterizado por picos alternantes de tristezas e alegrias. Ele também era considerado um homem de gênio, mais propenso à arte
criadora, à imaginação.
A explicação para os diferentes humores era dada pela
coexistência de quatro substâncias no corpo humano: sangue (quente e úmido), fleugma
(frio e úmido), bile amarela (quente e seca) e bile negra (fria e seca). A
prevalência de uma delas sobre as outras marcava a personalidade: sanguínea, fleumática,
colérica ou melancólica. Também os planetas interferiam nessa caracterização. No caso do melancólico, saturno.