Lá, sentada numa banqueta, num bar escuro, Isadora suspira de cansaço. Feixes de luzes multicores recortam o ar, fazem retratos revelando rostos dantes perdidos no breu: risos falsos, maquiagens borradas, olhares fatais. Na mão, um drinque colorido: água parada por lesa que Isadora esta, de tanto beber já não consegue mais. Do seu lado uma mulher fala de substâncias da vida: todas suas verdades maiores, ignoradas. Depois sobre paragens além mar, as bonitezas que o de longe proporciona, sempre mais vastas. De tanto e tanto que se diz pouco são essências aproveitáveis. Suas palavras voam o espaço e se perdem nele, letras esparsas no ar - redemoinhos. Isadora se dispersa e fixa o olhar no lóbulo daquela orelha, donde pende uma pedra muito lisa, escorregadia, purpúrea. O adorno realiza movimentos regulares de relógio, marca o tempo da música que se espalha no salão. Detém por minutos sua atenção ali, na pedra brilhante e nua que existe fixa, sem alma. Rocha sólida cuja dança é o vai-vem, vem-vai cadenciado. Depois volta-se para o pescoço, fita-o branco, redondo, este que devia ser macio como uma almofada nova. Quer tocá-lo com a boca, sentir sua textura quente. Impulso inconteste que a natureza cria para que a vida se logre arrependida, de saudade basta, às vezes. A mulher puxa a banqueta e se aproxima para que Isadora a ouça melhor. Ela aproveita e se aproxima também, curva a cabeça sob o pretexto de escutá-la. Agora que está bem próxima do seu objeto de desejo Isadora adverte-se, teme. Raciocina. Avança centímetros em seguida atrasa. Titubeia infinitamente num impasse repleto de quês maiores: Que? e Quê? os Quês?. Isadora no meio do caminho, paralisada feito pedra que medusa faz. Isadora entende e não entende. Permanece.
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
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