Um funcionário do Estado aguardava a publicação, na imprensa oficial, das suas férias. Deveria ter saído no diário da Sexta porque elas se iniciariam na Segunda. Assim, a primeira coisa que ele fez pela manhã foi ligar o computador para procurá-la. Nada constava. Por isso que, no final da tarde, quando seus colegas lhe deram votos cordiais (pouca chuva, mulheres e até, quem sabe, uma namorada - afinal estava na hora), respondeu a todos com um sorriso atravessado, de gente ressabiada.
Passou o final de semana tentando não pensar muito no assunto, dizendo para si mesmo que na Segunda a publicação estaria ali sem falta, quando então poderia viajar tranqüilo para o Rio de Janeiro. Mas a Segunda veio sem portaria alguma. Decidiu então retornar ao trabalho, ainda que previsse a reprovação de todos: não esquenta cara, relaxa, sua portaria vai sair com data retroativa, deixa de ser noiado. Ou: que tu faz aqui meu irmão? .
Mas este funcionário era do tipo que só acredita vendo, um São Tomé. Cauteloso, preferiu incorrer no erro de trabalhar nas férias a surpreender-se posteriormente com tenebrosos descontos no holerite. Ou de repente até coisa pior, como o caso da senhora dos contratos. A pobre coitada, crendo estar de férias, viajou para o Caribe retornando só no trigésimo primeiro dia, quando recebeu a notícia de que, sua portaria nunca fora publicada. No entanto, a de exoneração já estava ali quente, e não só isso, voando de boca em boca, através dos sóbrios corredores do antigo prédio do governo. Exonerada por faltas! Ela que em vinte anos de carreira pública não possuía sequer uma ausência injustificada no seu currículo. Não, era arriscado demais. Este funcionário sabia e temia a máxima administração burocrática: o que não está no papel, não existe no mundo. Por isso ficaria ali, ainda que não trabalhasse de fato, fazendo-se presente e o principal: batendo o cartão nos estritos horários de entrada e saída. Até seu chefe foi ter com ele, se explicar, dizendo que tudo estava arranjado, que aquilo era uma mera formalidade desimportante. E não é que não acreditasse naquelas palavras, mas na prática, de nada valiam.
Sua espera angustiada, no entanto, foi breve. Pois já no terceiro dia, encontrou seu nome publicado no Diário Oficial, bem ali, na página 30 , seção 8 do caderno II:
Sua espera angustiada, no entanto, foi breve. Pois já no terceiro dia, encontrou seu nome publicado no Diário Oficial, bem ali, na página 30 , seção 8 do caderno II:
Portaria 39/11
Autoriza, nos termos do art 89, I, item 2 da LC 29/69, que Este Funcionário, matrícula 89073, coma o cu do Senhor Diretor de Assuntos Gerais, no período de 11-10-99 a 05-11-99, sem prejuízo de seu vencimento e demais benefícios decorrentes da sua função gratificada e desde que não haja quaisquer ônus ao Estado
Saiu! Finalmente essa merda saiu! gritou a todos enquanto arrumava a mochila para ir embora. Agora eu vou!
Vá em paz querido! Mas vá logo que já se passaram três dias. E aproveite muito.
Vá em paz querido! Mas vá logo que já se passaram três dias. E aproveite muito.
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