segunda-feira, 7 de março de 2011

Café com Leite


 Quem não gosta de tomar leite com chocolate (ou café) no meio da tarde?  Lá pelas quatro horas dar uma parada no trabalho para se deliciar com essa combinação saborosa, que podendo ser quente ou gelada, se adapta a qualquer clima da Terra. Além de gostoso é uma boa desculpa para relaxar e bater papo com aquela pessoa que você adora (ou fugir de uma alma sebosa que assombra seu departamento – sempre existe uma). Vou arriscar dizendo que esse tipo de hábito até melhora a qualidade de vida, coisa de gente legal, que sabe relaxar. Mas outro dia um amigo, bem aquele do tipo desencanado, veio com uma assim: não vou mais tomar porque escurece os dentes. Na hora só pude pensar, até tu Brutus! Ah não! E tentei convencê-lo de que isso era besteira porque como me disse certa vez outra pessoa querida: “viver escurece os dentes”. Pois é, eu também quase caí nessa, mas felizmente um iluminado me fez enxergar o quanto é absurdo esse tipo de comportamento. E a maluquice não pára por aí. A paranóia da pigmentação dentária é só uma dentre as inúmeras instruções do manual da estética perfeita (e diga-se de passagem artificial, despersonalizada, sem graça mesmo). Outro caso foi de uma mulher que, embora não tivesse nenhum problema para atrair os olhares dos rapazes, quis ainda assim se submeter a uma operação agressiva para ficar com  o corpo mais enxuto (posso garantir, ela não era gorda, seu único “defeito” era não ser a Audrey Hepburn). E o pior: usou seu tempo de férias para isso. Tentei lhe dizer que era bonita daquele jeito, para pegar o dinheiro da operação e ir ver as águas claras do mar caribenho ao invés das paredes brancas de um hospital deprimente. É claro que ela não me ouviu, no mínimo deve ter pensado que eu era uma competidora e a queria ver “feia”. Além do mais, um argumento de segundos nunca seria suficiente para superar anos e anos de doutrinação da revista Vogue (e afins). Como esse, quantos casos já ouvi por aí, de pessoas que se submetem a operações cirúrgicas arriscadas, doloridas e caras a fim de não necessariamente ficarem mais bonitas, mas sim ficarem mais parecidas umas com as outras. Não sou contra as pessoas se cuidarem. Acho isso ótimo, desejável, saudável, é um sinal de amor-próprio, auto-estima. Quem não gosta de gente que se gosta? Agora, há uma diferença bem clara entre o cuidado e a paranóia. Não é difícil distinguir. Passar fio dental e escovar os dentes é se cuidar, deixar de comer e beber um monte de coisa que você adora só para que eles fiquem mais brancos é paranóia. Realizar uma atividade física que você gosta é se cuidar, passar todo o seu tempo livre numa academia (que você não suporta) e deixar de ler, estudar, namorar, ouvir música (e de se tornar alguém mais interessante) é paranóia. Resumindo, quando alguém deixa de lado diversos elementos da sua individualidade, os quais são imprescindíveis para sua formação como ser único, especial que é, em prol de um conceito genérico de beleza, cai na terrível armadilha de se tornar uma pessoa chata (porque afinal deixou de fazer um monte de coisa que tinha vontade), sem graça, sem sal, açúcar, pimenta, um ser hipossódico enfim. E se esse argumento ainda não for suficiente, uma coisa é certa: você não será mais amado(a) por possuir um silicone no peito ou um dente mais alvo, acredite em mim. Se essas fossem questões tão essenciais Shakespeare não teria escrito Romeu e Julieta (afinal naquele tempo nem pasta de dente devia ter) . O amor é um pouquinho mais complexo que isso. Ufa! ainda bem! :-)

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