domingo, 7 de agosto de 2011

Almas Frívolas

 
Tenho internet, ipod, máquina fotográfica, notebook, roupa suficiente para me vestir por semanas, não poupo com viagens e livros. Ainda assim, algumas pessoas enxergam certa austeridade no meu estilo de vida (seja por não ter carro, televisão ou um guarda-roupa imenso). Nesses momentos, paro para refletir se algo me falta, se realmente me acostumei com pouco e no fim , a conclusão é sempre a mesma: a de que tenho até excesso de coisas.  Para que tanto?
O que ocorre , a meu ver, é um excesso frívolo na nossa sociedade. Vigora o valor - deturpado- de que precisamos de muitos e muitos objetos de consumo para ficarmos bem . O cotidiano me mostra ( e banaliza) situações que consternam: pessoas desesperadas por uma espécie caríssima de celular ou por um tablet (muitas vezes de quem nem gosta tanto de ler).  
Nessas ocasiões, de constatação desses excessos frívolos, até simpatizo com os monges e suas vidas de clausura e sacrifício. Fico imaginando o desprezo que devem sentir da fútil e infantil “bourgeoisie”. Medrosa de perder suas coisinhas, fraca o bastante para ser incapaz de silenciar o demônio que surge quando estamos sós. Da sua ética e moral tacanhas, seus valores frágeis. Da sua crença ingênua na ciência e na imprensa, essas inabaláveis fontes “da verdade”. Da cega histeria materialista , completamente absurda, capaz de abalar milhares em fila por causa de uma bugiganga eletrônica qualquer. Da sua assustadora volubilidade de hábitos e costumes, ao sabor dos ventos, da voga (vaga voga). Dos seus ídolos “big brothers”. Da ausência do sagrado em suas vidas. Do seu forçado descaso frente àquilo que realmente interessa, que é mais difícil porém compensador, enfim, ao que de fato tange a humanidade: a natureza, a morte, a política, o desejo, o amor, a arte, o nascer, o renascer – a ressurreição- , a fraternidade, o trabalho, deus (mas não como o papai do céu, por favor). Só querem é “desrefletir” o máximo que podem para matar o tempo (são tantas as ferramentas: TV, internet, vídeo-game, prozac, cachaça, compras...) como adolescentes pervertidos. Que mais achariam os monges dessa esplêndida disneylândia, repleta de mickeys e patetas, senão como sendo obra do coisa-ruim, do capiroto? De quem mais? Haja reza brava para que se salvem.

PS ; Para perder um pouco da visão distorcida que a cultura “bourgeois” incutiu em todos nós, ao menos  acerca da clausura monástica e seu gosto frugal, vale a pena ver o filme do diretor francês Xavier Beauvois, “Dos Homens e dos Deuses" (cena acima).


Um comentário:

  1. Justamente.
    http://vouejavolto.wordpress.com/2011/08/11/exercicio-de-desapego-e-como-se-acumulam-inutilidades-nessa-vida/

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